quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Cabeça de cartola

* Peço, de antemão, desculpas a quem não goste ou não acompanhe futebol pelo texto abaixo.

Não é por ser são-paulino que sou contra a unificação dos títulos brasileiros.

Pessoas que com certeza terão muito mais dados e argumentos do que eu (PVC, Juca Kfouri, Mauro Cezar, Tostão...) vão conseguir explicar melhor porque isso tudo é mais pensado e politicamente direcionado do que parece e que, no fundo, não representa nenhum acréscimo ou decréscimo real no mérito e história dos clubes envolvidos.

O que mais me impressiona, na verdade, é a mentalidade dos cartolas brasileiros, principalmente dos que se posicionam a favor da unificação simplesmente pela ganância de "prevalecer" numericamente sobre os rivais. E a CBF, sob Ricardo Teixeira,- estes sim, cada vez mais "soberanos" - aproveita-se da cegueira simplista de dirigentes e torcedores para utilizá-los como massa de manobra política, ainda que fazendo com que se sintam lembrados, honrados, vitoriosos. Mais do que isso, ironicamente, presidentes que prometiam ser "alternativas de gestão modernizantes" como Luiz Gonzaga Belluzzo, do Palmeiras, e Luis Alvaro de Oliveira, do Santos, encampam sorridentes o papel de marionetes de uma Confederação Brasileira de Futebol cada vez menos legítima (para dizer o mínimo).

Um bom exemplo de como é rasa e contraditória a linha de raciocínio "numericista": há pouco tempo o Palmeiras reivindicava como título mundial o torneio conquistado em 1951, batizado Copa Rio, e o Santos desde sempre comemora o seu bi-mundial, conquistado em 62 e 63. Nenhuma das competições, no entanto - como lembra o blog bate-pronto do Estadão - é reconhecida pela FIFA como o Mundial de Clubes. Qual é, então, a regra? Valem só os títulos reconhecidos por entidades oficiais ou não? Será que os clubes estão dispostos a "trocar" alguns títulos por outros? Haverá uma próxima cerimônia da CBF na qual Pelé devolverá suas medalhas dos mundiais?

O futebol não é isso. Não é um jogo chato de somar e subtrair criado por uma instituição ou mandatário, que premia e pune da maneira que bem entende. Como se mede, então, a superioridade de um time sobre o outro? Maior número de campeonatos brasileiros (e o que são campeonatos brasileiros)? Número de estaduais (ou a média de estaduais pela idade do time em questão)? Libertadores e mundiais têm mais peso? Maiores torcidas contam? E na conta das maiores torcidas entram pessoas de todas as idades? Existem clubes mais e menos vencedores, mais e menos populares, mais e menos tradicionais. Cada um com sua devida importância real, conquistada dentro de campo. Não nos é imposta goela abaixo.

Nenhuma das equipes teoricamente beneficiadas deveriam ou precisariam mendigar (ou barganhar) títulos, nacionais ou internacionais.

Principalmente quando a esmola vem de fonte tão duvidosa.

*update: mais (boas) opiniões: Juca e Roberto Porto.

Um comentário:

  1. Acho que essa reivindicação de título vem de quem gosta mais das vitórias do que do time.

    Por isso, tenho inveja dos times argentinos. Lá a torcida gosta do clube. Aqui as pessoas gostam do clube, quando ele vence!

    É a mesma lógica do Dunga, que muita gente criticou, de não valorizar a seleção de 82 porque não ganhou nada!

    abração!

    Belo texto!

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