quinta-feira, 7 de abril de 2011

eu gosto da minha vó

Eu gosto da minha vó, principalmente por causa das folhas do calendário do coração de Jesus que ela tem e que ela diariamente destaca (acho que ela é única pessoa que eu conheço que faz isso todos os dias). Hoje pela manhã ela destacou e leu 'sete de abril, dia do jornalista' e me ligou para dar os parabéns e depois passou o telefone para o meu avô e obrigou-o a me dar os parabéns também. Achei muito bonito da parte deles mas pensei que nós, jornalistas, não estamos de parabéns. Enfim.

Mas eu gosto mais da minha vó mesmo porque ela me ensinou a ler. Ela produziu, sem que ninguém pedisse, uma apostila com as palavras escritas à mão na parte debaixo da folha e recortes de revistas com as respectivas figuras das palavras na parte de cima. Eu no começo fingia que lia porque sabia quais eram as palavras justamente pela ilustração delas logo acima,(do mesmo jeito que eu enganava os adultos dizendo fu-ji-o-ka, assim pausadamente na frente do fujioka), mas depois eu comecei a ler mesmo. Ela também era a única que não ria da minha cara quando eu desenhava um monte de letras que eu conhecia, uma atrás da outra, e perguntava se aquilo era uma palavra. Podia estar escrito 'icsntnoflarcto' mas ela dizia que quase era uma palvra e tentava pensar em alguma coisa parecida. Eu gosto da minha vó também muito porque ela me ensinou - ou, sei lá, me transferiu - uma noção estética muito boa, apreço e reconhecimento automático de formas e coisas bonitas desde o desenho das palavras e dos conjuntos de desenhos que dão em livros até as colchas de retalhos que ela fazia.

Minha vó votou na Weslian Roriz e não arreda o pé dessa opinião e não acredita que Roriz, Joaquim, tenha superfaturado a ponte JK, para dizer o mínimo, e provavelmente acha que Jaqueline Roriz é boa pessoa e que parece mais magra pessoalmente do que no vídeo no qual recebe dinheiro ilegal. E apesar de discordar absolutamente dessa opção política, eu acho interessante que ela seja irredutível ao ponto de consguir defendê-los (a família Roriz). Uma mulher de personalidade, a minha vó.

Minha vó e meu avô são pessoas muito boas do tempo em que se mandava cartas e em que se valorizava através delas a profissão do destinatário, ´Jornalista Pedro de Oliveira´ escrito bem grande nas costas do papel pardo. E é por isso que ela me liga para dar parabéns pelo dia do jornalista, apesar de eu não ser tão jornalista quanto gostaria, pelo menos agora. E também por isso que eu, provavelmente, vou dar parabéns aos meus netos nos dias de suas profissões e mandar cartas com o nome deles bem grande nas costas do papel pardo seguido de suas profissões ou formações acadêmicas, assim: ´Professora Ana Clara´, se esses forem, por acaso, a profissão e o nome dela.

3 comentários:

  1. Massa, meu velho! As diferenças não devem separar as pessoas! Qualquer tipo de rótulo só serve de preconceito. Muito bom o texto! Felicitações aos avós!

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  2. Não acredito que demorei tanto pra passar por aqui e ler sobre sua vó e vô.

    Eles são realmente incríveis! Para completar a corujice, eu diria que têm sorte em ter um neto jornalista pedro de oliveira ramos. Mas quando se tem a idade que eles têm, já não é questão de sorte... São os frutos que as pessoas colhem quando estão vovós. Vc é fruto das apostilas, colchas de retalho, sucos naturais de frutas do nordeste e de muitas conversas e paciências! É fruto de pessoas que criaram 9 filhos e ainda tiveram energia e paciência pra alfabetizar netos antes de eles terem a idade certa pra isso. Depois de tudo isso, eles podem votar q defender quem quiserem na política...

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  3. O que resta falar é que ser criado regado a cajuína e musse de maracujá e bacuri só pode ser bom pro juízo, porque saímos todos até bem arrumadinhos e boas pessoas, não é mesmo? não sabia da existência desse blog! Adorei primo, vou frequentar :) beijão!

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