Para Mari
‘Você
tá ouvindo isso?’, ela ri, ‘eu não acredito que a gente tá aqui’. O barbudo rasga
o pequeno violão havaiano com raiva, machuca as pontas dos dedos por que só sabe
tocar assim, do jeito que sangra. Ela é mais bonita quando ri. Ela sabe – dá
pra ver – que, de alguma forma e em algum nível o barbudo é todos nós, a conjunção
de nossas expectativas, a obliteração momentânea de nossos medos. Ele sofre e é
feliz, sente uma fisgada na base do rim, uma gota de sangue vermelho na camisa branca. Ao fundo o morcego, do lado de dentro a faca. Ele fala de como
quase matou, sem querer, os integrantes de uma banda americana e de como o The Who mudou a sua vida. Suarento, canta com as
veias do pescoço saltadas e ri. Do lado de dentro começa a se formar, bem
devagar e sem ruído, o vazio que deverá permanecer por alguns dias no minuto em
que ele parar de tocar.
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