segunda-feira, 25 de junho de 2012

coagulado

era só sangue, mesmo, quente e profuso descendo a esteira da parte de trás da cabeça até o calcanhar, ponta-de-lança africano, uma caneca de vinho depois de nadar, o dia de (quase) chuva como os outros todos, as luzes do jardim por dentro dos aquários sem peixes já se acendiam, alternadamente verdes e azuis, eu sentia as unhas dela arranhando de leve o meio das minhas costas e o sangue passava a fluir mais tranquilo, as mãos macias que não eram de nenhuma mulher específica, mas mais familiares do que todas as outras mãos de mulheres de verdade que já haviam feito o mesmo trajeto, mãos frias e com boas intenções que cantavam músicas bonitas e tristes acompanhadas por um piano cor de madeira que diziam ao sangue 'tenha calma', ao que minhas costas se moviam da direita para esquerda em reflexo-resposta num movimento muito parecido ao daquele gato sem pêlos que é exatamente o que minhas costas fazem quando querem concordar com mãos cantantes de mulheres que tendem a deixar meu fluxo sanguíneo assim, menos apressado.

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