quarta-feira, 19 de setembro de 2012

a hora e a vez

"E assim nesse parado Nhô Augusto foi indo muito tempo, se acostumando com novos sofrimentos, mais meses. [...] Até que, pouco a pouco, devagarinho, imperceptível, alguma cousa pegou a querer voltar para ele, acrescer-lhe do fundo para fora, sorrateira como a chegada do tempo das águas, que vinha vindo paralela: com o calor dos dias aumentando, e os dias cada vez maiores, e o joão-de-barro construindo casa nova, e as sementinhas, que hibernavam na poeira, esperando na poeira, em misteriosas incubações. Nhô Augusto agora tinha muita fome e muito sono. O trabalho entusiasmava e era leve. Não tinha precisão de enxotar as tristezas. Não pensava em nada... E as mariposas e os cupins-de-asas vinham voar ao redor da lamparina... Círculo rodeando a lua cheia, sem se encostar... E começaram os cantos."

Guimarães Rosa (mais gênio ainda), de A hora e a vez de Augusto Matraga

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