terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Barba ensopada de sangue

"[...] O peso é uma de suas sensações favoritas. Ele a identificaria no ato se ela se deitasse sobre ele amanhã cedo ou daqui a um ano, tanto faz. E a maneira como um corpo se move. Se está em contato íntimo com o seu, se puder segurá-lo com firmeza usando as duas mãos nos diversos pontos em que se articula e ler dessa forma os seus movimentos voluntários e involuntários, suaves e bruscos, repetidos ou não, poderá reter para sempre a imagem tátil que lhe dirá bem mais que qualquer estímulo visual sobre como esta pessoa se encolhe e se solta, como pede e recusa, como se aproxima e se afasta. Ela tem clavículas saltadas, culotes fartos, pernas imensas e musculosas por dentro. Cabelos ásperos e o suor um pouco amargo como café fraco. Hálito de leite com açúcar. A maneira como ela usa os dentes. A autoconsciência corporal das mulheres bonitas restringe seus movimentos. Uma coleção de pequenas vergonhas e retraimentos que vão sumindo em parte, pouco a pouco, na penumbra cada vez mais reveladora do quarto mofado. O retraimento dá lugar a uma certa submissão. A diferença é sutil. Vai lembrar de tudo."

Daniel Galera - Barba ensopada de sangue - p. 81

Nenhum comentário:

Postar um comentário